
Após anos de dificuldade na obtenção de oferta de gás natural para abastecer usinas térmicas, as geradoras devem conseguir habilitar projetos para o leilão A-5 de energia, que ocorre no fim do mês e licita projetos com previsão de entrega em 2020. Além da queda nos preços do gás natural liquefeito (GNL), que viabiliza a importação, o Valor apurou que a Petrobras está pela primeira vez oferecendo um pacote de serviços que inclui a regaseificação e transporte do insumo para abastecer os empreendimentos.
A AES Tietê conseguiu o suprimento de
gás natural para abastecer uma termelétrica de 550 megawatts (MW) em
Canas, no interior de São Paulo, disse o presidente Britaldo Soares. O
projeto da usina está pronto, com licença prévia desde 2011, mas não
saiu do papel por conta da dificuldade de obtenção de suprimento de gás.
A licença vence em outubro de 2016.
Segundo Soares, a Tietê fará um “swap”
de GNL com a Petrobras. No arranjo, a companhia garante o GNL para os
terminais de regaseificação da estatal que, por sua vez, fornece o
produto via gasodutos para a usina, reduzindo os custos logísticos.
A Copel utilizará a mesma estrutura de
oferta de gás para viabilizar a expansão de 200 MW da térmica de
Araucária, no Paraná, cadastrada para o A-5. “Já temos o fornecedor do
GNL, com uma proposta que atende bem às condições do leilão”, afirma
Jonel Iurk, diretor de novos negócios da companhia.
Com a oferta nacional praticamente
controlada pela Petrobras, as empresas vinham enfrentando grandes
dificuldades de garantir gás para gerar energia. A estatal tem controle
sobre os gasodutos que abastecem o país e consome todo o gás que produz,
e, portanto, não tem excedente. Os três terminais de regaseificação de
GNL do país – no Ceará, no Rio de Janeiro e na Bahia – também estão sob
controle da companhia.
O apetite pela fonte é grande. No leilão
A-5 realizado em novembro, foram cadastrados 39 projetos de térmicas a
gás, com capacidade de 20,6 mil MW. Apenas seis deles, totalizando 4,1
mil MW passaram para a fase de habilitação, quando é necessário
comprovar o acesso ao insumo.
Agora, com a escassez de energia
elétrica no país e a necessidade de expansão das térmicas de base, esse
cenário está começando a mudar. “A Petrobras está muito mais disposta a
viabilizar alternativas”, disse um alto executivo do setor. “A gente
percebe um movimento muito mais pró-ativo, que não via antes”, ressaltou
Iurk, da Copel. Procurada, a Petrobras não retornou o pedido de
entrevista.
A queda nos preços internacionais do GNL
é outro ponto importante. Segundo relatório do Ministério de Minas e
Energia, no ano passado, a cotação de referência do produto no mercado
europeu caiu 20%, para US$ 8,47 por milhão de BTU. “O preço do petróleo
caiu e entraram diversos projetos de GNL no mundo. Passamos de um ciclo
favorável ao vendedor para outro favorável ao comprador”, afirma Ricardo
Pinto, da consultoria Gas Energy.
A mudança na tendência de preços já
estimulou investimentos. No último A-5, o gaúcho Grupo Bolognesi vendeu
1,2 mil MW de duas usinas térmicas, que serão abastecidas com o gás
liquefeito. Para isso, vão erguer terminais de regaseificação, em
Pernambuco e no Rio Grande do Sul.
Superada a questão da oferta de gás, o
ponto agora é se o preço-teto de R$ 281 por megawata-hora (MWh)
oferecido pelo governo para a energia oferecida pelas térmicas no
próximo leilão acomoda os gastos. O valor é bastante superior aos R$ 209
por MWh propostos para a fonte no último certame.
“Caber no preço, cabe. Mas vai ser
apertado”, afirma Thaís Prandini, da consultoria Thymos Energia. Segundo
a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), há 31 projetos a gás
cadastrados para o certame, com capacidade total de 15,4 mil MW.
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