Antes de reproduzir uma
notícia importante, sobre a aprovação na Câmara do banco dos BRICS,
permitam-me algumas especulações. Algumas podem parecer paranoicas, mas
estamos diante de uma virada geopolítica tão grande, com movimentos tão
definidos, que podemos nos dar ao direito de suprir o que não sabemos
com um pouco de imaginação.
Mesmo que nos faltem
elementos para fechar o quebra-cabeça, isso não afetará o resultado
final da análise, que é baseado em fatos: a China está trazendo para o
Brasil os recursos que os EUA estão tirando. Exemplo: enquanto o sistema
judiciário americano tenta ferrar a Petrobras, a China está assinando
acordos sucessivos para emprestar dinheiro à estatal, já anunciou
investimentos aqui da ordem de R$ 200 bilhões para cima, e acertou com o
Brasil a criação do banco dos Brics, que alocará outros bilhões na
infra-estrutura brasileira.
Passei uma tarde
inteira, na quarta, conversando com parlamentares, da Câmara e do
Senado, e uma das teorias que circulam naqueles ambientes é a seguinte: a
conspiração midiático-judicial-tucana para destruir a cadeia de
indústrias do setor de petróleo é financiada pelos EUA, em especial
pelas indústrias Koch, de propriedade dos irmãos Koch, os empresários
mais ricos dos Estados Unidos.
Os irmãos Koch atuam em
quase todas as etapas do setor, e são grandes especuladores no mercado
mundial de petróleo. Os Koch são ainda os principais financiadores do
partido republicano, em especial de suas franjas mais radicais, como o
Tea Party.
Outra teoria, e essa é a
mais plausível de todas, porque há mais fatos: vários desses grupos
“jovens”, que organizam marchas antigoverno no Brasil recebem dinheiro
americano. Vem pra rua, Revoltados on Line, Movimento Brasil Livre, essa
turma toda recebe, em alguns casos até sem o saber, dinheiro dos Koch
ou de outro grupo vinculado à direita americana e às suas empresas de
petróleo.
Os irmãos Koch fazem
lobby pelo fim da lei de conteúdo nacional, e pelo fim do monopólio da
Petrobras como operadora, para que eles mesmo possam oferecer seus
serviços e produtos à Petrobrás. Ou mesmo substituir a Petrobrás.
Corre à boca pequena no
congresso que os tucanos não estão preocupados com a crise na cadeia de
indústrias ligada ao petróleo e à construção civil, sob ataque político
violentíssimo de setores conspiracionais do Ministério Público, porque o
dinheiro deles já está garantido pelo Tio Sam.
O alto tucanato foi aos EUA, dias atrás, e seus membros foram homenageados num regabofe com bilionários.
Não me entendam mal. Ao
contrário do clichê que se tem de um blogueiro progressista, não sou
nenhum esquerdista antiamericano. Ao contrário, acho que o Brasil
deveria desenvolver muito mais parcerias com os EUA, sobretudo nos
campos da tecnologia da informação, ciências e cultura.
Mas evidentemente não
faz sentido destruir a indústria brasileira de petróleo e substituí-la
por empresas controladas pelos irmãos Koch, que representam o que existe
de mais golpista, corrupto e reacionário nos EUA. Se existia corrupção
na relação entre as indústrias brasileiras e a Petrobras, com a entrada
dos Koch essa corrupção seria alçada a uma magnitude muitíssimo
superior.
A relação entre o
dinheiro americano e a política brasileira ficou clara durante as
eleições de 2014. Sempre que Dilma caía nas pesquisas, as ações da
Petrobrás subiam, empurradas por pressões especulativas exercidas a
partir da bolsa de Nova York.
O capital internacional,
que ainda existe e não é delírio de mentes paranoicas esquerdistas, tem
sede nos EUA e defende, em primeiro lugar, os interesses econômicos e
políticos dos EUA.
É aí que mora o
problema: os EUA nunca tiveram uma visão generosa para com o Brasil,
porque nunca dependeram de nós para nada. Com exceção, talvez, do café,
que não tem importância estratégica nenhuma.
Já a China realmente
precisa do Brasil, porque depende de nossos produtos agropecuários e
minerais. Interessa à China que o Brasil se mantenha forte, estável e em
crescimento, com uma política independente dos EUA, e por isso ela está
ajudando o Brasil a superar a atual crise.
Os fundamentos da
indústria brasileira foram lançados na década de 40, quando o então
presidente Getúlio Vargas usou a geopolítica da época para obter grandes
financiamentos dos EUA.
Dilma está fazendo a
mesma coisa. Está jogando o jogo macro da geopolítica para trazer ao
Brasil grandes investimentos em infra-estrutura.
E de quebra ainda
conseguirá desinfetar a maioria dessas conspirações midiático-judiciais,
cuja principal arma seria espremer e ressecar a economia brasileira.
A história do poder
americano sugere fortemente que mantenhamos o nível de paranoia em
estado de alerta. Mas se quisermos nos ater estritamente aos fatos
públicos, nossa análise não muda muita coisa.
Em termos gerais, as
pressões políticas que vem dos EUA continuam negativas. E não é porque
os EUA são malvados e os chineses, bonzinhos.
Os EUA, à diferença da China, não têm interesse, por exemplo, em financiar a nossa infra-estrutura.
No frigir do bolinho de
arroz, isso é o que importa: obter recursos, muitos recursos, para
financiar nossos trens, metrôs, portos e estradas.
Conseguimos isso com a
China, o que forçará os EUA a também alocarem recursos aqui, se não
quiserem perder influência e negócios.
Enfim, parece que Dilma, desta vez, soube ficar do lado certo do vento.
Leia a notícia abaixo do site do PAC:
Câmara aprova Banco do Brics que tem como prioridade financiar infraestrutura
O plenário da Câmara dos
Deputados aprovou nesta quinta-feira (21) a criação de um banco de
desenvolvimento com atuação internacional ligado ao Brics – bloco
formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Os países
representam 42% da população mundial, 26% da superfície terrestre e 27%
da economia mundial. O principal objetivo do Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD) é financiar projetos de infraestrutura e de
desenvolvimento sustentável – públicos e privados – dos próprios membros
do bloco e de outras economias emergentes.
O NBD será uma
instituição aberta a qualquer membro das Nações Unidas. Os sócios
fundadores, no entanto, manterão poder de voto conjunto de pelo menos
55%. Além disso, nenhum outro país individualmente terá o mesmo poder de
voto de um membro dos Brics.
Para o secretário de
Assuntos Internacionais do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MP), Claudio Puty, a aprovação do banco representa uma nova
fonte de recursos para financiar projetos em áreas estratégicas aos
países do bloco. “O investimento em infraestrutura é essencial ao
desenvolvimento e à retomada do crescimento econômico brasileiro”,
afirma. O secretário lembra que a criação do NBD “é ainda mais relevante
em um momento que o Brasil está prestes a lançar um plano de
investimentos em infraestrutura”, comentou. Os recursos da nova
instituição, acredita o secretário, poderão ajudar no financiamento
privado dos empreendimentos.
“Uma condição necessária
ao planejamento de investimento de longo prazo é reconhecer os limites
orçamentários que os países em desenvolvimento enfrentam. Assim é
preciso buscar formas distintas e inovadoras de financiamento que
combinem recursos públicos e privados. É nesse sentido que o NBD se
institui como instrumento estratégico para o desenvolvimento dos países
do bloco”, destaca Puty.
O acordo autoriza o novo
banco a operar com um capital de US$ 100 bilhões. Este valor pode ser
alterado a cada cinco anos pelo Conselho de Governadores, órgão máximo
da administração do NBD, formado por ministros dos países fundadores.
Além dos empréstimos, o
NBD poderá fornecer assistência técnica para a preparação e
implementação de projetos de infraestrutura e desenvolvimento
sustentável aprovados pela instituição; criar fundos de investimento
próprios; e cooperar com organizações internacionais e entidades
nacionais, públicas ou privadas.
Fonte: Brasil 247
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