
“A gente paga por tudo isso depois”, lamenta a aposentada Marília Almeida, que mora sozinha e vê que as contas de luz não param de subir desde que começou 2015. “Eu não errei, mas vou pagar. Os governantes não pensam na classe média que está muito apertada e quando o aumento chega não há mais o que fazer”, diz, se referindo ao “estouro” nos primeiros meses deste ano. A conta de luz aumentou em janeiro, março e abril acrescentando, em média, 21% aos clientes residenciais do Estado. Os dois primeiros ocorreram em todo o Brasil e o último em Pernambuco, porque foi o reajuste anual da distribuidora, a Celpe.
Os aumentos constantes da energia
elétrica são uma prova de que os erros de planejamento (com uma grande
parte das obras de geração e transmissão sem ficar pronta no prazo), a
falta de gestão e as mudanças nas prioridades do setor energético acabam
trazendo consequências a todos os brasileiros. Somou-se a isso a MP 579
(que se transformou na lei 12.783) para ocorrer uma explosão nas
tarifas de energia elétrica. Quando não paga a conta como consumidor, o
brasileiro paga como contribuinte. Nos últimos dois anos, o Tesouro já
socorreu as empresas do setor com R$ 21,1 bilhões.
Mas por que os projetos que atrasaram
deixaram a conta mais salgada? Primeiro, os projetos e obras do setor
elétrico são planejados a longo prazo, envolvem investimentos altos,
precisam às vezes de anos para serem implantados. Segundo: a energia que
não foi gerada pelos empreendimentos planejados teve que entrar no
sistema e ser produzida pelas térmicas. O custo do atraso na implantação
das usinas (de várias fontes) foi de R$ 65,1 bilhões incluindo, o que
deixou de ser gerado entre 2006 e 2014, segundo um estudo feito pela
Federação da Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).
A principal expansão que o governo
federal planejou foi o aumento da geração por grandes hidrelétricas,
principalmente as do Norte do País, que acrescentariam 30 mil megawatts
(MW) de 2006 até 2015, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia
Elétrica (PDE) 2006-2015. Do total previsto, 14.022 MW foram implantados
até dezembro último como mostra o relatório de fiscalização da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Foi menos do que a metade do
planejado e as hidrelétricas produzem a energia mais barata do País.
Na energia produzida pelas térmicas, que
é mais cara, a implantação superou o planejado. Deveriam ter sido
implantados 9.012 MW, quando o total chegou a 17.889 MW, segundo dados,
respectivamente, do PDE 2006-2015 e da Aneel. Nesse período, entraram
9.784 MW de plantas que queimam combustíveis fósseis, o que é muito
poluente. “Os empreendimentos de geração entre 50 megawatts MW e 1 mil
MW não foram priorizados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e não
tiveram a velocidade que mereciam. Eles teriam menor impacto ambiental,
precisariam menos linhas de transmissão. O governo federal escolheu as
térmicas a diesel, quando existiam projetos melhores de biomassa,
Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), entre outros. Preferiram comprar
uma energia que tem o preço cinco vezes maior”, explica o diretor da
Koblitz Energia, Luiz Otávio Koblitz.
Especialistas também criticam a expansão
da oferta baseada nas hidrelétricas do Norte. Os empreendimentos foram
feitos a fio d’água sem a construção de reservatórios. “Qual é melhor:
fazer uma barragem ou queimar diesel e poluir? A primeira passa a ser um
reservatório de energia. Faltou decisão política para construir os
reservatórios das hidrelétricas do Norte”, diz o atual presidente em
exercício da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe),
Ricardo Essinger. Por exemplo, Belo Monte, no Pará, tem uma potência
instalada de 11,2 mil MW que poderão ser produzidos entre fevereiro e
maio. Na média, a usina poderá produzir 4,5 mil MW (por não ter
reservatório) e a sua instalação tem um custo estimado em R$ 30 bilhões.
A primeira turbina deveria entrar em operação em fevereiro último, mas
foi adiada para novembro.
Erros de planejamento também
atrapalharam a implantação das linhas de transmissão. O licenciamento é
um dos motivos do atraso das linhas de transmissão e isso não ocorreu
apenas com as grandes hidrelétricas do Norte, como Jirau (em Rondônia),
que só pode escoar a energia sete meses depois das primeiras turbinas
ficarem prontas. Aconteceu com vários parques eólicos do Nordeste,
incluindo um em Caetité, interior da Bahia, que ficou pronto dentro do
prazo com uma potência instalada de 294 MW. A linha de transmissão que
escoaria a produção desse parque atrasou por motivos diversos, incluindo
o licenciamento de um sítio arqueológico encontrado durante a
implantação da linha de transmissão.
Agora, defende o presidente do Instituto
Acende Brasil, Claudio Sales, o governo deveria estar preparando um
racionamento para poupar água ao longo deste ano e voltar a ter uma
reserva hídrica em 2016.
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